terça-feira, 31 de maio de 2016

Mobilização de canteiro


Mobilização de canteiro

Logística de início de obra requer agilidade e atenção para evitar retrabalhos, atrasos e perda de competitividade




Marcelo Scandaroli
Mobilização inclui análise das condições topográficas do terreno, vias de acesso ao canteiro, pontos de captação de água, locais para descarte de resíduos, disponibilidade de rede elétrica, entre outros
  
A mobilização de canteiros para edificação imobiliária envolve uma série de ações que merece ser cuidadosamente conduzida para não comprometer a segurança, a produtividade e, até mesmo, a viabilidade da obra. Durante essa etapa é realizada a montagem de toda a infraestrutura necessária para a execução dos serviços, incluindo desde áreas de trabalho, espaços para armazenamento de insumos, vias de circulação de materiais e pessoas, sistemas de transporte vertical e horizontal, além da instalação de apoio técnico-administrativo. "Essa também é a hora de providenciar vários documentos imprescindíveis para iniciar a empreitada, como alvará de construção, licenças para movimentação de terra e demolição, projeto de fundação e contenções etc.", comenta José Luis Dutra Matos Bicho, diretor técnico da Oriens Empreendimento.
Descaso com procedimentos aparentemente corriqueiros durante a mobilização pode significar atrasos, desperdícios e muita dor de cabeça. A falta de documentação para o início de obra, por exemplo, leva a paralisações. A ausência de estudos de impacto da obra sobre a vizinhança são causas frequentes de desgastes desnecessários. Já erros na análise dos acessos ao local do canteiro, não raras vezes, implicam multas pelo descumprimento às leis e restrições ao tráfego de caminhões. Sem contar que o canteiro mal planejado é o primeiro passo para o descumprimento de normas que visam garantir a segurança no ambiente de trabalho. Em suma: a forma de conduzir a mobilização inicial pode apresentar implicações graves no decorrer de toda a obra.


Marcelo Scandaroli
Instalação da área de apoio técnico/administrativo deve ser feita antes do início das obras

Ao desafio da etapa pré-obra, somam-se os prazos, cada vez mais enxutos, para essa fase. Giani Pfeister, gerente sênior do núcleo de desenvolvimento de negócios da Racional Engenharia, diz que em muitas concorrências, o prazo de mobilização indicado por cada empresa conta pontos a favor ou contra. "Quanto maior a agilidade das empresas de se mobilizarem, mais segurança elas passam para o cliente e maior atuação elas terão sobre o cronograma. Sem contar que um prazo lento de mobilização vai exigir que a construtora corra no decorrer da obra para recuperar as perdas dessa primeira etapa", argumenta a engenheira. Segundo ela, empresas de engenharia bem consolidadas são capazes de mobilizar canteiros em apenas uma semana, dependendo do negócio e do cliente em questão. Mas é condição ter em mãos todos os elementos necessários para a mobilização. Nos casos em que as aprovações não ficam sob responsabilidade da construtora, o cliente precisa oferecer, no mínimo, o espaço liberado, os projetos aprovados e as autorizações necessárias para o início de obra.


Como fazer?
Projeto de logística de movimentação de materiais e o projeto do canteiro de obras podem evitar perdas durante toda a etapa de construção
Os cuidados devem começar logo na primeira visita ao futuro canteiro. Nessa ocasião devem ser identificadas as necessidades e peculiaridades de cada localidade e contrato. Entre os itens a serem analisados estão condições topográficas, vias de acesso ao canteiro, pontos de captação de água, locais para descarte de resíduos, disponibilidade de rede elétrica, entre outros.

"Negligenciar a primeira visita aumenta a tendência de problemas na obra", afirma Wallace Magalhães Ferreira, gerente de contrato da Santa Bárbara Engenharia. Ele conta que um equívoco comum nesse momento é determinar que a comunicação seja feita por meio de um sistema convencional de telefonia, quando na verdade não há esse serviço disponível no local.
 
Para evitar esse e outros tipos de transtornos, a dica é se antecipar aos problemas. A gestão do tempo é um aspecto de alta criticidade, ainda mais quando envolve providências junto a órgãos públicos e concessionárias. Se o local não dispõe de rede elétrica ou se a carga na rede é insuficiente para atender à futura obra, será necessário haver um estudo para aumento dessa carga feito pelas concessionárias. Isso também acontece ou pode acontecer para as ligações de água e esgoto. "Como há burocracia por trás disso tudo, o melhor é fazer tudo com antecedência", avisa o engenheiro José Carlos Thiago de Andrade, gerente técnico da unidade de Aracaju da Cosil.
 
Um dos grandes desafios enfrentados pelo construtor durante a fase de mobilização é compatibilizar as necessidades do canteiro com áreas limitadas e prazos exíguos. "Não há um modelo único de canteiro e sempre serão necessárias adequações às condições do terreno", lembra César Augusto Silva, engenheiro responsável pelas obras da Habitare.
 
A complexidade aumenta quando a construtora está em regiões diferentes daquelas do seu portfólio tradicional. Para um mesmo assunto, os procedimentos podem variar de acordo com a localidade, o que acaba exigindo maior mobilização de pessoas.
 
Nesses casos, recomenda-se que a construtora identifique os principais pontos que interferem diretamente no funcionamento da obra, como a localização, existência de fornecedores locais capacitados e disponibilidade de mão de obra. "Um ponto importante é realizar uma pesquisa para identificar quais são as maiores dificuldades enfrentadas por outras empresas que trabalham na mesma região, procurando descobrir soluções para alguns tipos de problemas que venham a surgir", recomenda Ferreira. O engenheiro da Santa Bárbara sugere que ao atuar em localidade nova, a construtora aproveite o período de mobilização para contatar o sindicato local e identificar as particularidades dos trabalhadores daquela região. "De posse do resultado dessas pesquisas podemos saber o melhor cardápio a ser implantado no refeitório dos trabalhadores", exemplifica.
 
Mesmo em cidades conhecidas, algumas mobilizações podem ser especialmente complexas. Giani Pfeister conta que atualmente a Racional trabalha na ampliação do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Trata-se da construção de uma nova torre dentro de um hospital em funcionamento. A obra ocupa todo o terreno, portanto sem área para construção do canteiro. "Em casos como esse, mesmo que custe mais caro, pode ser preciso construir um canteiro provisório que é transferido de local com o decorrer da obra", conta Pfeister. Outra solução cada vez mais comum em áreas urbanas é a construção dos canteiros fora do espaço da obra, por falta de espaço no terreno.


Mobilização terceirizada

Um recurso que algumas empresas têm-se utilizado para dar agilidade às suas mobilizações é a terceirização. Para esses casos, recomenda-se atenção especial para a empresa a ser contratada, sobretudo no que se refere à qualidade dos materiais empregados e à qualificação dos funcionários que executarão o serviço. Tudo isso para evitar manutenções desnecessárias e despesas não previstas. "Uma boa providência antes da contratação é visitar canteiros já executados pela empresa. Um contrato bem redigido, contemplando materiais exigidos e garantias de execução, também contribui para evitar problemas futuros", recomenda Andrade.
 
Mas seja terceirizando ou não, em mobilizações de diferentes portes, o fundamental é que haja planejamento adequado. "Perdas nessa etapa podem ser evitadas com atividades que aumentem o domínio do construtor sobre o processo de produção antes que ele se inicie", ensina o professor da Poli-USP Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, diretor da Produtime Gestão e Tecnologia. Para isso, ele destaca algumas ferramentas importantes, como o projeto de logística de movimentação de materiais, o projeto do canteiro de obras e o planejamento que chegue ao nível do microplanejamento.
CustosEmbora representem algo em torno de 1% do total da obra, os custos de implantação de canteiro merecem atenção dos empreendedores. Cada empresa trata desse assunto de uma forma. Seduzidas pela maior facilidade de fazer a medição, muitas consideram as despesas com a mobilização como custos diretos. Mas, para o consultor Mozart Bezerra da Silva, o mais adequado é colocar a mobilização de canteiro como despesa indireta. Isso porque a implantação do canteiro depende do local da obra e da distância até a sede da construtora, por exemplo.
"Qualquer gasto, em todos os âmbitos, será reduzido com um planejamento adequado", acredita Max Reis, diretor de obras da Construtora Atrium. Segundo ele, a chave para fazer a mobilização e não ser surpreendido com custos extras posteriores é planejar e fazer um cuidadoso orçamento prévio de todos os materiais a serem utilizados.