Mobilização de canteiro
Logística de início de obra requer agilidade e atenção para evitar retrabalhos, atrasos e perda de competitividade
|
Mobilização inclui análise das condições topográficas do terreno, vias de acesso ao canteiro, pontos de captação de água, locais para descarte de resíduos, disponibilidade de rede elétrica, entre outros |
A mobilização de canteiros para edificação imobiliária envolve uma série de ações que merece ser cuidadosamente conduzida para não comprometer a segurança, a produtividade e, até mesmo, a viabilidade da obra. Durante essa etapa é realizada a montagem de toda a infraestrutura necessária para a execução dos serviços, incluindo desde áreas de trabalho, espaços para armazenamento de insumos, vias de circulação de materiais e pessoas, sistemas de transporte vertical e horizontal, além da instalação de apoio técnico-administrativo. "Essa também é a hora de providenciar vários documentos imprescindíveis para iniciar a empreitada, como alvará de construção, licenças para movimentação de terra e demolição, projeto de fundação e contenções etc.", comenta José Luis Dutra Matos Bicho, diretor técnico da Oriens Empreendimento.
Descaso com procedimentos aparentemente corriqueiros durante a mobilização pode significar atrasos, desperdícios e muita dor de cabeça. A falta de documentação para o início de obra, por exemplo, leva a paralisações. A ausência de estudos de impacto da obra sobre a vizinhança são causas frequentes de desgastes desnecessários. Já erros na análise dos acessos ao local do canteiro, não raras vezes, implicam multas pelo descumprimento às leis e restrições ao tráfego de caminhões. Sem contar que o canteiro mal planejado é o primeiro passo para o descumprimento de normas que visam garantir a segurança no ambiente de trabalho. Em suma: a forma de conduzir a mobilização inicial pode apresentar implicações graves no decorrer de toda a obra.
|
Instalação da área de apoio técnico/administrativo deve ser feita antes do início das obras |
Ao desafio da etapa pré-obra, somam-se os prazos, cada vez mais enxutos, para essa fase. Giani Pfeister, gerente sênior do núcleo de desenvolvimento de negócios da Racional Engenharia, diz que em muitas concorrências, o prazo de mobilização indicado por cada empresa conta pontos a favor ou contra. "Quanto maior a agilidade das empresas de se mobilizarem, mais segurança elas passam para o cliente e maior atuação elas terão sobre o cronograma. Sem contar que um prazo lento de mobilização vai exigir que a construtora corra no decorrer da obra para recuperar as perdas dessa primeira etapa", argumenta a engenheira. Segundo ela, empresas de engenharia bem consolidadas são capazes de mobilizar canteiros em apenas uma semana, dependendo do negócio e do cliente em questão. Mas é condição ter em mãos todos os elementos necessários para a mobilização. Nos casos em que as aprovações não ficam sob responsabilidade da construtora, o cliente precisa oferecer, no mínimo, o espaço liberado, os projetos aprovados e as autorizações necessárias para o início de obra.
Como fazer?
Projeto de logística de movimentação de materiais e o projeto do canteiro de obras podem evitar perdas durante toda a etapa de construção
Os cuidados devem começar logo na primeira visita ao futuro canteiro. Nessa ocasião devem ser identificadas as necessidades e peculiaridades de cada localidade e contrato. Entre os itens a serem analisados estão condições topográficas, vias de acesso ao canteiro, pontos de captação de água, locais para descarte de resíduos, disponibilidade de rede elétrica, entre outros.
"Negligenciar a primeira visita aumenta a tendência de problemas na obra", afirma Wallace Magalhães Ferreira, gerente de contrato da Santa Bárbara Engenharia. Ele conta que um equívoco comum nesse momento é determinar que a comunicação seja feita por meio de um sistema convencional de telefonia, quando na verdade não há esse serviço disponível no local.
Para evitar esse e outros tipos de transtornos, a dica é se antecipar aos problemas. A gestão do tempo é um aspecto de alta criticidade, ainda mais quando envolve providências junto a órgãos públicos e concessionárias. Se o local não dispõe de rede elétrica ou se a carga na rede é insuficiente para atender à futura obra, será necessário haver um estudo para aumento dessa carga feito pelas concessionárias. Isso também acontece ou pode acontecer para as ligações de água e esgoto. "Como há burocracia por trás disso tudo, o melhor é fazer tudo com antecedência", avisa o engenheiro José Carlos Thiago de Andrade, gerente técnico da unidade de Aracaju da Cosil.
Um dos grandes desafios enfrentados pelo construtor durante a fase de mobilização é compatibilizar as necessidades do canteiro com áreas limitadas e prazos exíguos. "Não há um modelo único de canteiro e sempre serão necessárias adequações às condições do terreno", lembra César Augusto Silva, engenheiro responsável pelas obras da Habitare.
A complexidade aumenta quando a construtora está em regiões diferentes daquelas do seu portfólio tradicional. Para um mesmo assunto, os procedimentos podem variar de acordo com a localidade, o que acaba exigindo maior mobilização de pessoas.
Nesses casos, recomenda-se que a construtora identifique os principais pontos que interferem diretamente no funcionamento da obra, como a localização, existência de fornecedores locais capacitados e disponibilidade de mão de obra. "Um ponto importante é realizar uma pesquisa para identificar quais são as maiores dificuldades enfrentadas por outras empresas que trabalham na mesma região, procurando descobrir soluções para alguns tipos de problemas que venham a surgir", recomenda Ferreira. O engenheiro da Santa Bárbara sugere que ao atuar em localidade nova, a construtora aproveite o período de mobilização para contatar o sindicato local e identificar as particularidades dos trabalhadores daquela região. "De posse do resultado dessas pesquisas podemos saber o melhor cardápio a ser implantado no refeitório dos trabalhadores", exemplifica.
Mesmo em cidades conhecidas, algumas mobilizações podem ser especialmente complexas. Giani Pfeister conta que atualmente a Racional trabalha na ampliação do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Trata-se da construção de uma nova torre dentro de um hospital em funcionamento. A obra ocupa todo o terreno, portanto sem área para construção do canteiro. "Em casos como esse, mesmo que custe mais caro, pode ser preciso construir um canteiro provisório que é transferido de local com o decorrer da obra", conta Pfeister. Outra solução cada vez mais comum em áreas urbanas é a construção dos canteiros fora do espaço da obra, por falta de espaço no terreno.
Mobilização terceirizada
Um recurso que algumas empresas têm-se utilizado para dar agilidade às suas mobilizações é a terceirização. Para esses casos, recomenda-se atenção especial para a empresa a ser contratada, sobretudo no que se refere à qualidade dos materiais empregados e à qualificação dos funcionários que executarão o serviço. Tudo isso para evitar manutenções desnecessárias e despesas não previstas. "Uma boa providência antes da contratação é visitar canteiros já executados pela empresa. Um contrato bem redigido, contemplando materiais exigidos e garantias de execução, também contribui para evitar problemas futuros", recomenda Andrade.
Mas seja terceirizando ou não, em mobilizações de diferentes portes, o fundamental é que haja planejamento adequado. "Perdas nessa etapa podem ser evitadas com atividades que aumentem o domínio do construtor sobre o processo de produção antes que ele se inicie", ensina o professor da Poli-USP Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, diretor da Produtime Gestão e Tecnologia. Para isso, ele destaca algumas ferramentas importantes, como o projeto de logística de movimentação de materiais, o projeto do canteiro de obras e o planejamento que chegue ao nível do microplanejamento.
CustosEmbora representem algo em torno de 1% do total da obra, os custos de implantação de canteiro merecem atenção dos empreendedores. Cada empresa trata desse assunto de uma forma. Seduzidas pela maior facilidade de fazer a medição, muitas consideram as despesas com a mobilização como custos diretos. Mas, para o consultor Mozart Bezerra da Silva, o mais adequado é colocar a mobilização de canteiro como despesa indireta. Isso porque a implantação do canteiro depende do local da obra e da distância até a sede da construtora, por exemplo.
"Qualquer gasto, em todos os âmbitos, será reduzido com um planejamento adequado", acredita Max Reis, diretor de obras da Construtora Atrium. Segundo ele, a chave para fazer a mobilização e não ser surpreendido com custos extras posteriores é planejar e fazer um cuidadoso orçamento prévio de todos os materiais a serem utilizados.